Um eu postiço.
Vorph "ги́ря" Valknut
"Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe (se é esses outros).
Sinto crenças que não tenho(...) A minha perpétua atenção, sobre mim, perpetuamente me aponta traições de alma, a um carácter que, talvez, eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo. Sou como um quarto com inúmeros espelhos, fantásticos, que torcem, para reflexões falsas uma única, anterior, realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente árvore e até flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente, como se o meu ser participasse de todos os homens, incompletamente, por uma suma de não-eu, sintetizados num eu postiço".
1915? Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação. Fernando Pessoa. (Textos estabelecidos e prefaciados por Georg Rudolf Lind e Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1966.
Serei, eu, quem sou, ou um outro, por mim, crido? E quanto do que faço, me cabe a mim, se eu, ao outro, anuir no inconseguido? E se de tantas, terem sido as coisas, me fiz num pouco de mim? Quanto de mim há em outros de quem me julgo ser?
2019? Vorph Valknut, Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação, Maia: Blogue de Alterne