A vida assim.
Vorph "ги́ря" Valknut
- Então, como tem andado?
- Fui atropelada, vai fazer um ano.
- Onde?
- Lá em cima, na avenida, como quem vai para o Jumbo. Ia na passadeira. Um senhor muito simpático. Deu-se como culpado. Levou-me ao hospital. Fizeram rx, não tinha nada e vim para casa. Na manhã seguinte não me conseguia levantar. Andei uns dias a tirar líquido, tipo sangue, do joelho, com uma seringa.
- Bem... E o Seguro?
- Disseram que pagavam tudo, no final. Entretanto andei a fazer fisioterapia, a pagar do meu bolso.
- E o Seguro?
- Telefonei. Disseram que pagavam, mas tinha primeiro de ir ao médico deles, que trabalhava num hospital privado.
- E?
- Fui lá, palpou-me o joelho, disse-lhe que parasse pois doía. Depois mandou-me levantar da marquesa e perguntou-me a idade. 52. Disse que agora tinha de me habituar. É a vida. Mandou-me assinar uns papéis. Não assinei, e vim-me embora. Está tudo com o advogado. A médica do posto não queria acreditar. É tudo uma vergonha. Bem, olhe, vamos ver. Se der, dá, se não der...é assim, a vida.
- Bom, desculpe. Aonde é que nós íamos?
- Assim, desta maneira, vamos pouco, para qualquer lado.